quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sobre o ofício de historiador.

Tendo em mente que a dúvida é o ponto de partida para a busca do conhecimento. O historiador atento sabe que o processo de uma construção historiográfica perpassa inevitavelmente por labirintos de incertezas, questionamentos, ambigüidades, paradoxo que circundam o pesquisador em seu complexo e muitas vezes solitário ofício.

No caso da pesquisa histórica, o confronto com o documento é acompanhado de todo o espectro de mistérios vinculados às idéias do tempo presente. O historiador deve lembra-se de que toda fonte histórica está sob a influência direta de quem a produziu, sendo assim, o produto final de sua pesquisa terá sempre um vinculo com o presente e com interesses relacionados ao pesquisador. Não existe a pesquisa histórica na qual o historiador se anula completamente como imaginavam e desejavam os positivistas no século XIX.

Devemos sempre que formos realizar as pesquisas com levantamentos de fontes primárias – aquelas fontes diretas, e não as interpretações destas – termos em mente as circunstâncias em que estas foram produzidas, sua época, sua especificidades, sua função quando produzida e quem produziu e com que intenção. Levando isto em consideração, o pesquisador está apto a estudar tais fontes de uma forma menos superficial e mais critica, podendo aprofundar-se no estudo das formas circunstanciais e indiretas muitas vezes ignoradas a primeira vista, mas, com as quais vários documentos do cotidiano na época analisada foram preenchidos.

O historiador cuja pretensão seja recolher todas as provas possíveis de todos os fatos que poderiam se de interesse para sua pesquisa, corre o risco de perder num infindável quebra cabeça. A ilusão de que a quantidade de dados são a garantia de que sua parcela de invenção encontra-se apoiada em dados que poderiam comprovar a ocorrência real do que descreve deve ser evitada. Talvez se concentramos nossas buscas mais na periferia do passado poderíamos descortinar acontecimentos que se apresentassem no seu desenrolar original.

Refletir sobre o discurso por meio do qual tempo e história se revestem de inteligibilidade requer por parte do aprendiz de historiador um mergulho profundo e incessante nos textos produzidos pelos grandes autores da historiografia. Desde de Homero, Tucídides e Heródoto passando pelos metódicos no século XIX, pelos Marxistas influenciados pela obra de Marx e Engels, pela escola dos Annales fundada em 1929 tendo como principais mentores Marc Bloch e Lucian Febvre e ainda Braudel, Lee Goff, Certeau, Foucault e tantos outros igualmente indispensáveis para uma boa formação intelectual de um historiador.

Todavia, existem ainda infinitas histórias a se contar. E é possível que por mais que a criamos ou recriamos o resultado não nos traga convicções. O peso do presente nas definições das formas a partir da quais o passado será interrogado, nos leva a crer que, a História e o historiador são objetos cujas transformações e mutações revelam uma inevitável imprevisibilidade tornando impossível de se adivinhar um futuro para o historiador e a historiografia.

Nenhum comentário: