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Então me perguntei: como falar da mesquinhez da política no dia em que minha fé comemora a ressurreição de Jesus Cristo, o homem que mudou para sempre a face da Terra e deu início à Era Cristã? Porque, para os que compartilham esta fé que me emociona, que me norteia, que me abriga e que me sustenta, o domingo de Páscoa é um dia para dar graças por um único homem ter difundido valores que marcaram a história da humanidade.
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Então me lembrei dos inúmeros estudos historiográficos e sociológicos que dão conta de que Jesus mudou o mundo através da política. Sim, porque, até então, seus conceitos não eram aceitos, ainda que continuem não sendo.
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O conceito de igualdade entre os homens, por exemplo, foi uma pregação político-ideológica que gerou ao auto-proclamado Filho de Deus um tipo de oposição que, a despeito do surgimento do Cristianismo, atua até hoje da mesma forma que atuava há vinte séculos. Se Jesus surgisse hoje no cenário político, portanto, certamente lhe seria atribuída a pecha de “populista”.
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Jesus enfurecia-se com a desigualdade e com os ricos capitalistas. Chegou a expulsar comerciantes de um templo a chicotadas ao se deixar tomar por um acesso de fúria e indignação contra o mercantilismo. Defendia o socialismo ao propor que todos os homens vivessem em igualdade de condições, inclusive de renda. Contestava a riqueza e a concentração de renda com o mesmo fervor que qualquer socialista de boa cepa faria nos dias de hoje ou durante a história recente da humanidade.
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“Populista”, diriam Veja ou Estadão, Folha ou Globos, caso o filho de Deus vivesse nos dias de hoje e defendesse seu ideário. Sim, porque hoje não adiantaria Jesus se auto-imolar como fez há cerca de dois mil anos ao desafiar o governo de Herodes Antipas pregando contra a furiosa arrecadação de impostos por cobradores violentos que destruíam as vidas dos que se recusassem a financiar o deleite das elites dominantes, ainda que o livre mercado vigesse como defende hoje o capitalismo.
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No tempo em que Jesus viveu, não existiam direitos trabalhistas exatamente como querem hoje os neoliberais. O Estado não se intrometia em atividade nenhuma, limitando-se a arrecadar. Todo o resto era privatizado para os amigos do rei. Para deixar que o povo bebesse água de um poço situado nos latifúndios da elite, havia que pagar. O Estado não se metia em uma atividade como essa ou em qualquer outra. Apenas cobrava os impostos. Era o paroxismo capitalista.
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Jesus, que ousava contestar o ultra-capitalismo vigente e o Estado mínimo, foi destruído pela versão oficial, pela única versão que prevalecia nos meios de informação disponíveis, os quais pertenciam aos que tinham riqueza e estirpe como é hoje, o que lhes facultava fazerem prevalecer as versões mais mentirosas dos fatos ignorando e impedindo que se divulgasse provas em contrário exatamente como acontece hoje na grande mídia.
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A tendência da opinião pública era falsificada. Apesar da enorme popularidade de Jesus, a minoria falava mais alto. Era dito ao povo que havia um clamor popular contra o “populista” Jesus Cristo, que, segundo a “mídia” de então, prometeria o impossível a um povo que estaria sendo “intoxicado” com falsas ilusões.
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Nenhum deles percebeu, porém, o plano genial de Jesus. E muitos não compreendem até hoje por que o auto-proclamado filho de Deus deixar-se matar pela elite “salvaria” a humanidade, ou melhor, a parte dela que adotasse o ideário cristão. Não perceberam que a auto-imolação do dito messias, combinada com sua lendária ressurreição no terceiro dia posterior à sua morte excruciante, dividiriam a história em antes e depois de sua passagem pelo mundo (AC-DC).
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Jesus Cristo pode muito bem ter sido apenas um político extraordinário que hipnotizou as massas com seu discurso então surpreendente sobre “igualdade”, que difundiu a esperança de uma vida melhor mesmo sendo do outro lado da vida. Ele sabia – e isso é o mais espantoso – que o egoísmo humano jamais seria vencido, mas também sabia que o amor sobreviveria para travar, até o fim dos tempos, a eterna luta do bem contra o mal, a luta que é a sina de todos nós. Alguns de um lado, outros do outro.
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Fonte: Cidadania.com
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